terça-feira, 28 de setembro de 2010

Cristãos e as eleições

Para os interessados, aí vai uma boa palavra sobre nosso papel nas eleições deste ano:

http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=36746

segunda-feira, 21 de abril de 2008

As fontes do self, Charles Taylor

"Embora eu naturalmente deseje estar bem situado em relação a todos os bens que reconheço e caminhar na direção deles e não me afastando deles, a direção que sigo em relação a este bem específico tem importância crucial. Precisamente porque minha orientação para ele é essencial à minha identidade, o reconhecimento de que minha vida se afasta ou nuca pode aproximar-se dele seria devastador e insuportável. Isso ameaça me fazer cair num desespero diante de minha indignidade que atinge o próprio âmago de meu ser como pessoa" (p. 90).
O que fazemos se não buscamos a Deus de todo o nosso coração? Só de pensar que posso não estar em um caminho que não seja o da vontade de Deus, como se tivesse me afastando dele e de seus propósitos para a minha vida, o desespero toma conta de minha mente e também de todo o meu espírito e corpo. Davi diz em seu salmo: "Tu me mostras o caminho que leva à vida. A tua presença me enche de alegria e me traz felicidade para sempre"(Sl 16.11). Obviamente podemos perceber que a vida sem Deus, sem o seu direcionamente é totalmente angustiante e inconcebível.

Agradeço aos amigos Oséias, Vanessa e Eliézer pela colaboração.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Cinco linguagens do amor, Dr. Gary Chapman.

Dani é uma universitária muito admirada por seus professores. É o tipo da “cdf” que todo mundo conhece: estuda muito, presta atenção nas aulas, e faz todas os trabalhos que os professores passam. Se podemos dizer assim, Dani frequentemente recebe o carinho de seus professores e colegas através de palavras de elogios sobre seu desempenho no curso. Ela ama o que faz e se dedica ao máximo para fazer um bom curso.
Contudo, há um probleminha: Dani não se sente amada. Na verdade, ela nunca se sentiu amada de verdade. Todos olham para ela e enxergam nela uma pessoa feliz. Uma pessoa que enfrenta dificuldades e tem que resolver problemas como qualquer pessoa, mas que fora isso, tem uma vida muito boa. Dani mora com a família (mãe e irmão), eles são muito carinhosos entre si e, desde que seus pais se separaram quando ela era apenas um bebê, se ajudam em tudo. Uma família muito bonita. Ela mesmo afirma isso.
Mesmo assim, Dani continua não se sentindo verdadeiramente amada. Não, Dani não sofre de nenhuma crise de baixa auto-estima, não é ingrata pelo que Deus lhe deu na vida e nem exige demais das pessoas. Ela simplesmente não recebe amor pela linguagem que estão falando com ela. Dani escuta muito sobre seu bom desempenho na faculdade, tanto dos professores como de sua família, recebe apoio e conselhos sempre que pede, mas essa não é a linguagem do amor que Dani fala.
Dani está mais que suprida da linguagem chamada de palavras de afirmação. Todos a elogiam pelo que ela é e faz. Muitos a apoiam com palavras de incentivo diante de seus desafios e com conselhos quando suas dúvidas surgem. Mas a linguagem do amor de Dani é o que se chama de tempo de qualidade.
Tempo de qualidade pode ser qualquer coisa: um passeio no parque, uma caminhada na praia acompanhada de uma boa conversa, uma pescaria, ou mesmo uma conversa sentado na área de casa (lembro muito daquelas cadeiras de fios de plástico trançado, onde você pode tirar os calçados e escorar os pés nela dobrando as pernas, enquanto se inclina no encosto e consegue olhar para as estrelas). Tempo de qualidade não é o que se faz, mas simplesmente dedicar um tempo para a pessoa. Um tempo para uma conversa séria, para umas boas risadas, ou mesmo para brincadeiras ou bobagens que podemos falar de vez em quando.
Dani não tinha isso e por isso não se sentia amada. Nesse mundo louco e corrido, ela dificilmente conseguia se encontrar com alguém para passar esses momentos. Dentro da sua casa, com sua família ela também nunca tinha tido isso. A mãe trabalhou desde sempre para sustentar os filhos depois que o pai deixou a família e tudo sempre foi muito corrido.
Nem em seu relacionamento com Deus Dani se sentia verdadeiramente amada. Ela sempre ouviu que é preciso dedicar tempo em oração junto com Deus, que sem oração ninguém vai a lugar nenhum. Dani sabia disso, mas gostava muito mais de ficar horas e horas lendo a Bíblia ou livros que falassem sobre Deus. Ela não considerava isso um tempo separado para Deus e achava que Deus a amava menos por isso. Quando Dani leu um livro chamado “As cinco linguagens do amor de Deus” do Dr. Gary Chapman, ela descobriu que seus momentos de leitura e reflexão eram sim demonstrações de amor para Deus e que as revelações de sabedoria que ela sempre tivera por parte de Deus nesses momentos foram uma retribuição de Deus e uma demonstração de amor por parte Dele.
Daí em diante tudo mudou. Dani se sentiu verdadeiramente amada por Deus por saber que Deus dedicava tempo de qualidade a ela. Que Deus passava tempo com ela naquelas leituras e que Ele se agradava disso. Essa era a linguagem do amor dela: tempo de qualidade. Pronto: ela se sentiu cheia de amor, realizada por entender que Deus realmente a amava e que dava a ela muitos momentos para que ela pudesse ler e refletir sobre Sua palavra e Seus ensinamentos.
A partir Dani percebeu que as pessoas a amavam mas que não estavam falando sua linguagem. As pessoas que ela gostaria de passar um tempo junta expressavam amor de outras maneiras: falando, servindo, dando presentes ou simplesmente tocando. Mas Dani precisava passar tempo com as pessoas; era assim que ela enchia sem tanque de amor. Se ela não fizesse isso ela ficaria de tanque vazio, murcha com uma rosa esquecida ou seca como uma planta sem água. Ela precisava de tempo com as pessoas e mesmo que as pessoas falassem de outra maneira, expressando amor em outra linguagem, ela não era abastecida por isso.
Quando uma pessoa não recebe amor na sua linguagem principal, ela não se sentirá verdadeiramente amada de nenhuma outra forma. Podemos fazer o que quiser que não vai dar certo. Sempre estará faltando algo, sempre estará se sentindo vazia.
Deus se comunica conosco através de linguagens específicas. Ou melhor, ele expressa seu amor por nós de maneiras bem simples, mas que por várias vezes não conseguimos entender. Cada pessoa tem seu jeito principal de demonstrar e receber amor; é o mesmo Deus operando em todos com o mesmo espírito de santidade.


Palavras de afirmação

Deus realmente nos ama e Ele diz constantemente na Bíblia. Repetidas vezes Deus fala a seus filhos que é bom estar com eles, que Ele quer habitar no meio deles e que seu maior prazer é quando eles param para escutar a sua voz em seus corações. Quantas e quantas vezes Deus nos chama para escutarmos algumas dicas, para aprendermos um pouco mais das suas palavras e ouvir do seu amor e cuidado por nós. No livro de Jeremias 31.3 podemos ler uma das várias declarações de amor de Deus; Ele diz “com amor eterno te amei, por isso com bondade de atraí.”
“Com amor eterno te amei e por isso com bondade te atraí”: esta é uma declaração de Deus que está lá no Antigo Testamento. Desde sempre Deus tem nos amado e por isso espera que suas palavras sejam ouvidas. Ele por várias vezes repete nossas qualidades e nossas boas atitudes quando fazemos o que é certo. Mesmo com todo o amor que Deus declara a nós, muita vezes nos pegamos fazendo e pensando coisas que não tem nada a ver com Deus. Daí nos arrebentamos e ficamos remoendo nossa des-graça.
Mas nunca é tarde para fazermos as pazes com nosso Pai e escutar dele palavras de acolhida. Esse cuidado de Pai que Deus tem mesmo com um filho sujo (como uma criança coberta de lama) pode ser lido no livro de Isaías 48.18 onde encontramos estas palavras: “Ah se tivessem dado ouvidos aos meus mandamentos! Então seria a tua paz como um rio e a tua justiça como as ondas do mar.” No entanto, não demore porque Jesus disse para que todos que estivessem cansados e sobrecarregados fossem a ele....Isso é que é amor!
Ah sim, Deus expressa seu amor usando palavras de afirmação, falando e repetindo que nos ama e que se importa conosco.


Tempo de qualidade

Meu Pai, essa foi a parte que mais me tocou. Essa foi a parte que não me interessou apenas pelo fato da sabedoria, mas sobretudo por ser a maneira que mais eu recebo de Deus e das pessoas: tempo de qualidade.
Tempo de qualidade é estar junto com Deus lendo e meditando na sua palavra ou em qualquer outro texto que fale de sua palavra ou de seu caráter. Tempo de qualidade é orar a Deus e saber que Ele lhe ouve e responde às suas petições. Tempo de qualidade é investir tempo na relação com Ele e perceber que há uma retribuição. Deus sempre nos chama para termos boas horas de conversa, sempre nos chama para termos bons momentos juntos seja fazendo o que for, Deus sempre nos chama para passarmos bons momentos juntos. Caminhando, dançando, escrevendo, ou mesmo assistindo um por do sol e pensando baixinho.
Durante o carnaval estive em um retiro que o tema foi tirado de Tiago 4.8: “Cheguem-se a mim e eu me achegarei a vocês” Que coisa boa! Esse é um convite aberto para termos um tempo de qualidade com nosso pai. Foi um tempo fantástico que tive com Deus naqueles dias. Deus se aproxima de todo aquele que lhe chama verdadeiramente (Sl 145.18). Não pode ser só da boca para fora, tem que ser com todo o carinho que usamos para convidar um amigo a ir na nossa casa. Aliás, por muitas vezes Deus vem até nós através de amigos. Quantas e quantas vezes tive momentos de qualidade com amigos que aparentemente eram só para jogar conversa fora, mas no meio da conversa apareceu um assunto sério e ouvi de meu amigo uma palavra de Deus para me auxiliar em minhas decisões.
Tempo de qualidade, meus amigos, é uma linguagem fantástica que Deus usa para expressar seu amor por nós.



Presentes

Quem não gosta de ganhar presentes. Presentes são uma linguagem universal do amor. Dar presentes a alguém é dizer: estava pensando em você e decidi lhe trazer essa lembrança para expressar o quanto o amo.
Mas existem pessoas que têm no ato de presentear a sua principal linguagem do amor. Pessoas que se realizam dando e recebendo presentes. Essas pessoas demonstram sua atenção e cuidado com as outras que as cercam trazendo os mais variados presentes, da mais simples lembrancinha aos presentes mais caros e imponentes. Não importa o tamanho ou o preço, há pessoas que pessoas que só se sentem realmente amadas quando recebem um presente. E Deus é um deus que dá presentes a seus filhos. Seja um terra prometida, seja um vitória frente a um desafio, seja uma esposa para aquele que espera Nele, sejam roupas ou até carros para os mais ousados. Não importa, Deus não mede esforços para agradar e demonstrar amos a seus filhos. Que maravilha!


Atos de serviço

Assim como Deus faz conosco, há pessoas que expressam seu amor às outras pessoas com atos de serviço. Assim como Deus que promete ir à frente em nossas batalhas e pelejar por nós, que afirma constantemente que sua mão forte está adiante de nós nas mais variadas situações, há pessoas que também expressam seu amor fazendo coisas, servindo.
Pessoas abnegadas que não medem esforços para ajudar, para prestar auxílio, para, se necessário, carregar outras pessoas no colo se for necessário. Essas pessoas são vistas como muito prestativas, pessoas que doam de si mesmas e sempre tentam fazer o melhor para o outro.
E qual o melhor exemplo disso do que Deus, que fez com que seu próprio filho morrece na cruz por nós sendo o maior dos servos. Aquele que poderia reivindicar para si todos os méritos e regalias por ser o rei dos reis, servir como o mais simples dos homens poderia fazer, ou melhor, fez o que nem o mais simples dos homens poderia: dar a vida por nós. Um ato de dedicação completa. Deus é bom e grande em misericórdia. Não olhando para nossos defeitos, ele foi o maior exemplo de demonstrar amor através dos atos de serviço.


Toque

Há pessoas que demonstram amor através de abraços, apertos de mão ou qualquer outra atitude que envolva o toque em outras pessoas. Isso parece ser meio sem sentido, mas se você pensar nas pessoas que estão abandonadas em asilos ou casas de recuperação, sofrendo de lepra ou simplesmente esquecidas por seus familiares, você verá que umas das coisas mais importantes para essas pessoas é um simples abraço ou um aperto de mão. São pessoas que foram abandonadas pelos amigos e pela família, pessoas que perderam completamente o contato e a atenção daqueles que amavam; pessoas que não sentem o calor de um beijo de bom dia há anos. Essas pessoas se importam com coisas tão simples como um abraço ou um aperto de mão.
Esse tipo de demonstração de amor pode ser mais difícil de identificar em povos europeus que são de certa forma mais comedidos em suas expressões de carinho, mas para nós latinos isso é bem mais comum. Quantas e quantas vezes nos deparamos com algum conhecido que dá aquele abraço bem apertado em todo mundo que encontra?
Eu estudava em um colégio de padres. Era um colégio muito grande e com várias opções de laser para os alunos. Havia várias modalidades esportivas sendo oferecidas fora do horário de aula para os alunos, aulas de dança e de música também; tinha até xadrez. Eu participei de algumas dessas atividades. Foram bons anos aqueles. Mas uma coisa que estou lembrando também é que havia naquele colégio um padre velhinho, bem velhinho, que não conseguia nem falar direito. Sua voz era já bem fraca e pouco som impulsionava suas palavras. Mas uma coisa ele fazia todos os recreios, todos os dias: apertava a mão dos meninos mais novos. Os meninos faziam fila para que ele apertasse suas mãos. Ele apertava forte, balançava e sorria para os meninos enquanto eles esperniavam de dor e sorriam ao mesmo tempo. Vários e vários meninos ficavam naquela fila todos os dias e se sentiam amados com aquele aperto de mão, com certeza. Lembranças da vida.

Desde a década 1970, o dr. Gary Chapman vem investindo no estudo de como potencializar o mais nobre dos sentimentos em relacionamentos afetivos: o amor. Em As cinco linguagens do amor, traduzido para 32 idiomas, Chapman bate na seguinte tecla: "o amor não depende exclusivamente das emoções. Amor é o que você faz e diz, não apenas o que você sente".

Essa leitura foi reveladora para mim. Espero que seja para você também.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Perdido no deserto, Dr. Mike Wells

Jesus disse em Lc 10.27 para que nós amássemos nosso Pai do céu de todo o nosso coração e de todo o nosso entendimento, e o nosso próximo como a nós mesmos.
Agora eu quero fazer um exercício com você. Complete essas frases:

1 - Quando penso em estar com Deus, sinto...
2 - Quando tenho que confiar em Deus, sinto...
3 - Quando penso em Deus, desejo...
4 - Às vezes, fico zangado com Deus quando...
5 - É frustrante quando Deus quer que eu...
6 - Eu realmente adoro a Deus quando...
7 - O que mudaria em mim para agradar a Deus seria...
8 - Quando penso nos mandamentos de Deus me sinto...
9 - Às vezes, queria que Deus...
10 - Posso depender de Deus...
11 - Em meu relacionamento com Deus estou sempre certo de que ele irá...
12 - O que mais me amedronta sobre Deus é...
13 - Deus me surpreende quando..
14 - O que tenho medo que Deus possa fazer é...

Agora, olhando para suas respostas você poderá perceber que elas se referem não a Deus , mas em primeiro lugar a uma pessoa que foi ou é importante para você. Esse conceito de Deus na verdade descreve seu pai (sua mãe ou uma pessoa de influência em sua vida). Tudo o que sabemos sobre autoridade é o que aprendemos com os que estão à nossa volta. Não faz sentido, então, que quando somos ensinados a chamar a Deus de nosso Pai do céu, isso traga às nossas emoções o nosso conceito do nosso pai da Terra?

Como amá-lo então?
Meu desejo é que você possa amar a Deus pelo que Ele realmente é, não sendo atrapalhado por suas impressões pessoais errôneas.

São essas e outras muito boas que encontramos nesse livro desafiador que nos leva a degustar das melhores águas do deserto.

O Dr. Mike Wells é casado com Betty Wells, têm três filhos adultos e vivem em Littleton, Colorado nos EUA, onde é diretor da Abiding Life Ministries International. Dr. Mike é conferencista e Ph.D. em Terapia Bíblica.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Coração selvagem – Descobrindo os segredos da alma do homem, John Eldredge

Estamos diante de um livro transformador. Muitas vezes fico receoso de dizer isso de um livro por se tratar de algo muito pessoal, mas esse aqui é poderoso.
Com simplicidade e fundamentação sólida, o autor fala a respeito dos meandros da alma masculina. Começa por dizer que há uma diferença básica entre homens e mulheres desde a criação do mundo: a mulher foi criada dentro da beleza do jardim, já o homem foi criado antes, nas partes indomadas da criação (p. 15). Há uma diferença entre o coração masculino e o feminino, mas ambos retratam o coração de Deus (p. 19).
Sendo assim, a aventura com todo seu perigo e sua selvageria indispensáveis é um desejo espiritual inscrito na alma do homem (p. 16), pois o senhor é varão de guerra (Ex 15.3), e mesmo que a aventura requeira algo de nós, mesmo que ela nos coloque à prova, e embora a temamos, nós homens ansiamos por ela porquê ansiamos por sermos testados e descobrirmos que temos o que é necessário (p. 20).
Contudo, essa saga não é solitária. O homem não pode ser um herói solitário, e não o quer ser. Para ele é necessário ser herói para alguém. Adão recebeu todos os elementos para uma boa aventura, mas ainda faltava-lhe uma mulher (p. 25). Bom, mas isso é somente o que encontramos no primeiro capítulo. Vamos em frente.
Tal como existe algo impetuoso e selvagem no coração de Deus (Ap 19), também há no homem traços dessas características (p. 38). No coração de Adão havia impetuosidade, selvageria e paixão – todos ingredientes indispensáveis para se viver uma boa aventura. Já no coração da mulher havia beleza, mistério e ternura, que também são traços do caráter de Deus (p. 44).
Contudo, quando não atentamos para essas diferenças e tendemos a julgar todas as pessoas iguais acabamos por fazer um mundo repleto de caricaturas de masculinidade: mulheres solitárias, viúvas esportivas, filhos sem pais, pais que não brincam com seus filhos (p. 49). Hoje em dia os homens estão recusando-se a lutar, estão negando sua natureza guerreira seja por uma imposição da sociedade, seja por pura covardia; mas uma coisa é inegável: o homem nasceu em um mundo em guerra (p. 55) e se não tomar posição diante da vida seu coração ficará cheio de ira, lascívia, e medo (p. 49), pois cada omissão do homem é um tijolo na fortaleza que o encarcera. O homem não deve se surpreender quando for atacado (p. 86). Um homem não pode se esconder, ele deve lutar por sua amada e pelo coração dela, já que desfrutar da beleza da mulher sem querer enfrentar os desafios é egoísmo, é pornografia.
Na verdade, um homem precisa de uma batalha para lutar a fim de treinar e aprimorar seu guerreiro interior, pois todo homem é um guerreiro mas lutar é decisão de cada um (p. 134). Um guerreiro difere de um mercenário justamente por ter uma causa para lutar maior do que ele mesmo (p. 136).
Homens estão trocando seu espírito aventureiro pelo senso de responsabilidade. Estão negando que há batalhas a lutar. Isso tem uma causa fundamental: desde a omissão de Adão diante do assédio da serpente, os homens convivem com um medo, o medo de não terem o suficiente (p. 61-3). Desde então, o medo mais profundo do homem é ser exposto como um impostor (p. 51). Diante de tal medo os homens esquecem que Deus colocou desejos em seus corações e esses desejos revelam um propósito e apontam para um destino (p. 54), mas é por isso que os homens devem procurar conhecer suas almas para validar suas vidas (p. 88). A coragem nada mais é que o forte desejo de viver sob a prontidão para morrer (p. 160). É por isso que um guerreiro deve ter como principal arma a disciplina. Ela é nada mais, nada menos, que uma questão de sobrevivência no campo de batalha que é a vida (p. 162). Essa disciplina objetiva uma conexão com o Pai, pois se você não a tem de uma forma profunda, certamente se voltará para outros amores (p. 162).
Em contrapartida, a mulher também deturpa sua posição ao ceder aos encantos da serpente. Ao ceder ao engano a mulher nega sua natureza de auxiliadora e companheira e cai no vazio do controle e da solidão; não sendo mais fonte de vida (p. 57).
Já no capítulo quatro vemos que a principal pergunta de um homem é: “sou capaz?” (p. 68). Isso porque vivemos em uma sociedade que a família é cada vez mais dilacerada e esfacelada pelas lutas da vida. E mesmo assim algo importantíssimo não mudou desde a fundação do mundo: a masculinidade é outorgada, é de pai para filho (p. 68). Uma dica: pergunte ao Pai o que ele pensa de você (p. 129). O homem passa a vida inteira buscando alcançar a aprovação que seu pai não lhe deu (p. 88) e quando deixa de ser criança acaba buscando isso na mulher. Contudo, a masculinidade não vem da feminilidade (p. 91). Diante das tentações os homens acabam se afundando na busca da masculinidade ao se envolverem com mulheres e mais mulheres sem saberem que estão procurando no lugar errado (p. 90). O lugar mais letal para o homem procurar suas respostas é a mulher (p. 89). A grande mentira é que, ao recuperar a mulher, ele recuperaria sua masculinidade perdida (p. 90). Errado, a resposta está no próprio homem e em nenhum outro lugar (p. 93). Um homem não precisa de uma mulher para conseguir ou validar sua força, ele precisa de uma mulher para oferecer sua força (p. 112). Um homem precisa de uma missão maior que uma mulher, pois a mulher está sendo colocada no lugar de Deus (p. 111-12).
Falando um pouco da educação dos filhos, chega um determinado momento que o menino sente mais necessidade do pai do que da mãe (p. 69). Na maioria das vezes a mãe se sente rejeitada e o garoto se sente culpado quando ela não o deixa ir e ele reage com agressividade (p. 71). Mães e pais, é errado pensar que a natureza inerentemente agressiva dos meninos é má (p. 81). O que estamos querendo dizer aqui é que a sociedade produz muitos meninos, mas cada vez menos homens (p. 83).
Vejamos o exemplo das escolas. Os procedimentos disciplinares das escolas de hoje não foram feitos para os meninos (p. 82). Eles são obrigados a ficar horas sentados sem nenhum movimento ou aventura. Um homem precisa de iniciação, saber de onde veio e realmente ser testado, pois a confiança de outro homem passa a alimentar a confiança dele próprio (pp. 97-9).
Nessa jornada de recuperação da verdadeira masculinidade, tudo começa quando o falso eu fracassa (p. 107). A única coisa mais trágica do que a tragédia que acontece é a maneira como lidamos com ela (p. 103). O início do tratamento começa quando Deus abre essa ferida para cura-la, para só depois fazer com que nossos talentos brotem de algo genuíno (p. 107). Tenhamos coragem porque aquele que quiser salvar sua vida, vai perde-la (Lc 9.24, p. 25). A proximidade com Deus através do sacrifício de Jesus possibilita a proximidade com a ferida (pp. 116 e 124). É preciso para de negar a ferida e entrar nela, pois só assim permitiremos que Deus nos ame (p. 125). O talento de um homem está em sua ferida (p. 131) e o Pai está querendo que nós desenvolvamos esse talento através de seu perdão. Porque perdão é amor e tanto o perdão de Deus para nós como o nosso próprio perdão têm o poder de libertar um prisioneiro: nós mesmos. Perdão é uma escolha, querido, e não um sentimento (p. 127).
Aqui quero fazer um comentário particular: o grande erro é identificarmos benção com facilidade. Penso que seja melhor vê-la como emparelhamento de trajetórias, ou cooperação, e na maioria das vezes superação de obstáculos de maneira ativa, já que a maioria das vitórias bíblicas relatadas foram suadas (p. 108).
A estratégia inimiga é fazer com que nós busquemos uma vida de independência, mas Jesus dependia do Pai (pp. 117-18). E porque nós não faremos isso? Deus o considera um companheiro no campo de batalha (p. 135), mas estamos fugindo de nossa força (p. 141) ao nos recusarmos a entrar na luta por ficarmos remoendo as dúvidas em uma confusão de pensamentos (p. 144-45). Não há pecado entre nós e o espírito do Pai, mas entre este e o falso eu (Rm 7.20, p. 138). Por exemplo, o descontrole sexual antes de pecado é uma batalha pelas forças do homem (p. 140). Mesmo se nós decidirmos não entrar na guerra, nós já estaremos nela, mas nós não podemos lutar em uma batalha se nós não acreditarmos que ela exista (p. 151).
Quanto aos nossos companheiros de batalha, nós não precisamos de muitos amigos, precisamos é de poucos companheiros de trincheira para não cairmos na armadilha da solidão (p. 165). E sem medo de errar, suas feridas a serviço do Deus dos exércitos são um atestado de honra (p. 166).
Meus amigos, a vida não é um problema que deve ser resolvido, é uma aventura para ser vivida (p. 185). Aceitar o risco da vida é viver pela fé e isso é bom aos olhos de Deus. Ao sacrificar sua alma e seu poder, insistindo em controlar as coisas para diminuir os riscos, você pode perder sua alma antes mesmo de morrer (p. 189). Não pergunte do que o mundo precisa, pergunte o que lhe faz viver ativamente, porque o mundo precisa de pessoas vivificadas (p. 186). Deus lhe deu uma missão: licença para explorar a criação. “Como” nunca é a pergunta correta, isso é falta de fé (p. 191). Deixe as pessoas sentirem o peso de sua personalidade e deixe que elas lidem com isso (p. 142).

A família no Antigo Testamento – história e sociologia, de Esdras C. Bentho.

Estamos diante de um livro muito detalhista. O autor Esdras C. Bentho nos apresenta uma pesquisa rica e enxuta para aqueles que gostam da exploração de palavras hebraicas, gregas, latinas, enfim, a utilização de diversos idiomas com o objetivo de enriquecer o entendimento acerca dos textos bíblicos.
O livro é composto de dez capítulos: análise sócio-histórica da família, o casamento no Antigo Testamento, o divórcio, poligamia e esterilidade, a mulher no Antigo Testamento, etc. Todos os capítulos dando ênfase ao estudo de como a família era entendida no período patriarcal e sua colocação no meio social.
Para servir como exemplo, podemos citar a análise que o autor faz da palavra ba’al que aparece em Is 3.14 e em Jr 54.5. A palavra ba’al aparece em ambas passagens com o significado “possuir”, “dono”, “marido”, fazendo referência ao casamento civil. E a mesma palavra tem um uso teológico com relação à aliança entre Deus e Israel, em Dt 24.1 e Jr 31.32, com o sentido de “casar”, “desposar”.
Um outro exemplo é o uso da palavra hebraica garash para significar “divórcio” no texto que relata a expulsão de Adão e a mulher do jardim do Éden em Gn 3.23.
E a título de curiosidade, vocês sabiam que o homem israelita era dispensado um ano do serviço militar, obrigatório para todos sempre que havia a necessidade, assim que se casava? Essa lei expressa em Dt 20.7 e 24.5 objetivava a integridade da família e a criação dos filhos, além do estreitamento dos laços matrimoniais e afetivos entre os recém-casados, já que o casamento era, na maioria das vezes, um acordo arranjado entre as famílias.
Durante a leitura pode-se perceber várias comparações que o autor faz das leis e costumes que compõem e envolvem o Antigo Testamento com outros códigos civis da região da Mesopotâmia, tal como o conhecido Código de Hamurabi, e outros menos populares como o de Nuzi e o Código Assírio; comparações que ajudam e muito a entender o contexto da época.
Com um texto rico em informações bem fundamentadas e uma diversidade de fontes seguras na utilização da pesquisa, estamos certos de afirmar que esse livro será para o amante da pesquisa uma ótima fonte para consulta, e para o leitor menos acurado será um banquete de novidades bíblicas (o livro traz todo o alfabeto hebraico logo nas primeiras páginas).
Esdras C. Bentho é bacharel em Teologia e professor de Hermenêutica e Exegese.