Estamos diante de um livro transformador. Muitas vezes fico receoso de dizer isso de um livro por se tratar de algo muito pessoal, mas esse aqui é poderoso.
Com simplicidade e fundamentação sólida, o autor fala a respeito dos meandros da alma masculina. Começa por dizer que há uma diferença básica entre homens e mulheres desde a criação do mundo: a mulher foi criada dentro da beleza do jardim, já o homem foi criado antes, nas partes indomadas da criação (p. 15). Há uma diferença entre o coração masculino e o feminino, mas ambos retratam o coração de Deus (p. 19).
Sendo assim, a aventura com todo seu perigo e sua selvageria indispensáveis é um desejo espiritual inscrito na alma do homem (p. 16), pois o senhor é varão de guerra (Ex 15.3), e mesmo que a aventura requeira algo de nós, mesmo que ela nos coloque à prova, e embora a temamos, nós homens ansiamos por ela porquê ansiamos por sermos testados e descobrirmos que temos o que é necessário (p. 20).
Contudo, essa saga não é solitária. O homem não pode ser um herói solitário, e não o quer ser. Para ele é necessário ser herói para alguém. Adão recebeu todos os elementos para uma boa aventura, mas ainda faltava-lhe uma mulher (p. 25). Bom, mas isso é somente o que encontramos no primeiro capítulo. Vamos em frente.
Tal como existe algo impetuoso e selvagem no coração de Deus (Ap 19), também há no homem traços dessas características (p. 38). No coração de Adão havia impetuosidade, selvageria e paixão – todos ingredientes indispensáveis para se viver uma boa aventura. Já no coração da mulher havia beleza, mistério e ternura, que também são traços do caráter de Deus (p. 44).
Contudo, quando não atentamos para essas diferenças e tendemos a julgar todas as pessoas iguais acabamos por fazer um mundo repleto de caricaturas de masculinidade: mulheres solitárias, viúvas esportivas, filhos sem pais, pais que não brincam com seus filhos (p. 49). Hoje em dia os homens estão recusando-se a lutar, estão negando sua natureza guerreira seja por uma imposição da sociedade, seja por pura covardia; mas uma coisa é inegável: o homem nasceu em um mundo em guerra (p. 55) e se não tomar posição diante da vida seu coração ficará cheio de ira, lascívia, e medo (p. 49), pois cada omissão do homem é um tijolo na fortaleza que o encarcera. O homem não deve se surpreender quando for atacado (p. 86). Um homem não pode se esconder, ele deve lutar por sua amada e pelo coração dela, já que desfrutar da beleza da mulher sem querer enfrentar os desafios é egoísmo, é pornografia.
Na verdade, um homem precisa de uma batalha para lutar a fim de treinar e aprimorar seu guerreiro interior, pois todo homem é um guerreiro mas lutar é decisão de cada um (p. 134). Um guerreiro difere de um mercenário justamente por ter uma causa para lutar maior do que ele mesmo (p. 136).
Homens estão trocando seu espírito aventureiro pelo senso de responsabilidade. Estão negando que há batalhas a lutar. Isso tem uma causa fundamental: desde a omissão de Adão diante do assédio da serpente, os homens convivem com um medo, o medo de não terem o suficiente (p. 61-3). Desde então, o medo mais profundo do homem é ser exposto como um impostor (p. 51). Diante de tal medo os homens esquecem que Deus colocou desejos em seus corações e esses desejos revelam um propósito e apontam para um destino (p. 54), mas é por isso que os homens devem procurar conhecer suas almas para validar suas vidas (p. 88). A coragem nada mais é que o forte desejo de viver sob a prontidão para morrer (p. 160). É por isso que um guerreiro deve ter como principal arma a disciplina. Ela é nada mais, nada menos, que uma questão de sobrevivência no campo de batalha que é a vida (p. 162). Essa disciplina objetiva uma conexão com o Pai, pois se você não a tem de uma forma profunda, certamente se voltará para outros amores (p. 162).
Em contrapartida, a mulher também deturpa sua posição ao ceder aos encantos da serpente. Ao ceder ao engano a mulher nega sua natureza de auxiliadora e companheira e cai no vazio do controle e da solidão; não sendo mais fonte de vida (p. 57).
Já no capítulo quatro vemos que a principal pergunta de um homem é: “sou capaz?” (p. 68). Isso porque vivemos em uma sociedade que a família é cada vez mais dilacerada e esfacelada pelas lutas da vida. E mesmo assim algo importantíssimo não mudou desde a fundação do mundo: a masculinidade é outorgada, é de pai para filho (p. 68). Uma dica: pergunte ao Pai o que ele pensa de você (p. 129). O homem passa a vida inteira buscando alcançar a aprovação que seu pai não lhe deu (p. 88) e quando deixa de ser criança acaba buscando isso na mulher. Contudo, a masculinidade não vem da feminilidade (p. 91). Diante das tentações os homens acabam se afundando na busca da masculinidade ao se envolverem com mulheres e mais mulheres sem saberem que estão procurando no lugar errado (p. 90). O lugar mais letal para o homem procurar suas respostas é a mulher (p. 89). A grande mentira é que, ao recuperar a mulher, ele recuperaria sua masculinidade perdida (p. 90). Errado, a resposta está no próprio homem e em nenhum outro lugar (p. 93). Um homem não precisa de uma mulher para conseguir ou validar sua força, ele precisa de uma mulher para oferecer sua força (p. 112). Um homem precisa de uma missão maior que uma mulher, pois a mulher está sendo colocada no lugar de Deus (p. 111-12).
Falando um pouco da educação dos filhos, chega um determinado momento que o menino sente mais necessidade do pai do que da mãe (p. 69). Na maioria das vezes a mãe se sente rejeitada e o garoto se sente culpado quando ela não o deixa ir e ele reage com agressividade (p. 71). Mães e pais, é errado pensar que a natureza inerentemente agressiva dos meninos é má (p. 81). O que estamos querendo dizer aqui é que a sociedade produz muitos meninos, mas cada vez menos homens (p. 83).
Vejamos o exemplo das escolas. Os procedimentos disciplinares das escolas de hoje não foram feitos para os meninos (p. 82). Eles são obrigados a ficar horas sentados sem nenhum movimento ou aventura. Um homem precisa de iniciação, saber de onde veio e realmente ser testado, pois a confiança de outro homem passa a alimentar a confiança dele próprio (pp. 97-9).
Nessa jornada de recuperação da verdadeira masculinidade, tudo começa quando o falso eu fracassa (p. 107). A única coisa mais trágica do que a tragédia que acontece é a maneira como lidamos com ela (p. 103). O início do tratamento começa quando Deus abre essa ferida para cura-la, para só depois fazer com que nossos talentos brotem de algo genuíno (p. 107). Tenhamos coragem porque aquele que quiser salvar sua vida, vai perde-la (Lc 9.24, p. 25). A proximidade com Deus através do sacrifício de Jesus possibilita a proximidade com a ferida (pp. 116 e 124). É preciso para de negar a ferida e entrar nela, pois só assim permitiremos que Deus nos ame (p. 125). O talento de um homem está em sua ferida (p. 131) e o Pai está querendo que nós desenvolvamos esse talento através de seu perdão. Porque perdão é amor e tanto o perdão de Deus para nós como o nosso próprio perdão têm o poder de libertar um prisioneiro: nós mesmos. Perdão é uma escolha, querido, e não um sentimento (p. 127).
Aqui quero fazer um comentário particular: o grande erro é identificarmos benção com facilidade. Penso que seja melhor vê-la como emparelhamento de trajetórias, ou cooperação, e na maioria das vezes superação de obstáculos de maneira ativa, já que a maioria das vitórias bíblicas relatadas foram suadas (p. 108).
A estratégia inimiga é fazer com que nós busquemos uma vida de independência, mas Jesus dependia do Pai (pp. 117-18). E porque nós não faremos isso? Deus o considera um companheiro no campo de batalha (p. 135), mas estamos fugindo de nossa força (p. 141) ao nos recusarmos a entrar na luta por ficarmos remoendo as dúvidas em uma confusão de pensamentos (p. 144-45). Não há pecado entre nós e o espírito do Pai, mas entre este e o falso eu (Rm 7.20, p. 138). Por exemplo, o descontrole sexual antes de pecado é uma batalha pelas forças do homem (p. 140). Mesmo se nós decidirmos não entrar na guerra, nós já estaremos nela, mas nós não podemos lutar em uma batalha se nós não acreditarmos que ela exista (p. 151).
Quanto aos nossos companheiros de batalha, nós não precisamos de muitos amigos, precisamos é de poucos companheiros de trincheira para não cairmos na armadilha da solidão (p. 165). E sem medo de errar, suas feridas a serviço do Deus dos exércitos são um atestado de honra (p. 166).
Meus amigos, a vida não é um problema que deve ser resolvido, é uma aventura para ser vivida (p. 185). Aceitar o risco da vida é viver pela fé e isso é bom aos olhos de Deus. Ao sacrificar sua alma e seu poder, insistindo em controlar as coisas para diminuir os riscos, você pode perder sua alma antes mesmo de morrer (p. 189). Não pergunte do que o mundo precisa, pergunte o que lhe faz viver ativamente, porque o mundo precisa de pessoas vivificadas (p. 186). Deus lhe deu uma missão: licença para explorar a criação. “Como” nunca é a pergunta correta, isso é falta de fé (p. 191). Deixe as pessoas sentirem o peso de sua personalidade e deixe que elas lidem com isso (p. 142).
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