terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Desventuras da vida cristã, Philip Yancey

No primeiro capítulo, Yancey aborda a questão dos sinais e maravilhas de Deus em nossas vidas dizendo que co-existem, simultaneamente, dois mundos em nossas vidas: natural e sobrenatural. Para ele suas (his) ações ou adorações como cristão não são exclusivamente naturais ou sobrenaturais, são ambas as coisas funcionando ao mesmo tempo. Não é preciso ver milagres sobrenaturais para crer no amor de Deus, justamente porque Deus tem se revelado de maneira amorosa àqueles que assim o buscam.
No segundo capítulo, Yancey aborda a questão da tentação. Diz ele que a tentação é uma questão de pressão externa (estímulos e situações) ou interna (pensamentos sugestivos). Algumas tentações externas são passíveis de serem evitadas, mas aquelas que não é possível fazer isso basta, ele sabe que não é tão simples assim, fazer uma pressão interna de igual força e sentido contrário. Com a mesma força que somos pressionados para o pecado, podemos reagir em sentido contrário. Quanto às pressões internas (pensamentos) temos que reeducar nossas mentes para deixar de lado as recompensas óbvias e imediatas de aceitar o pecado e vislumbrar as recompensas de Deus que sempre aparecem em um horizonte mais amplo.
Aqui quero fazer um adendo de minha autoria: a palavra horizonte vem do grego e significa limite. Eu pergunto: e não é a fé em Deus pai algo que expande nossos limites além de nossa compreensão e nosso entendimento? Levando-nos a alcançar muito mais do que pedimos ou pensamos? Esse é o caráter das promessas de Deus, expandir nossos horizontes. Estamos preparados para isso? Não é preciso estar preparado, só é preciso crer.
Passos para se educar a mente: 1) vários salmos falam de como são melhores os frutos da vida cristã, de como é mais proveitoso não ceder às tentações; 2) substitua os pensamentos tentadores por algo melhor; a oração e as lembranças de tudo que já foi feito por Deus em sua vida ajudam; 3) sua mente segue padrões, mude esses padrões e mudará sua mente. Se tiver muita briga entre os filhos na hora de assistir TV, combine antes quais programas e horários cada um vai poder desfrutar; 4) rompa com o padrão do fracasso confessando. A ato de confessar a alguém que você errou com essa pessoa vai potencializar em você uma atitude diferente quando uma situação similar acontecer, além de você ganhar um parceiro de oração; 5) acima de tudo, LEMBRE-SE QUE VOCÊ É UM FILHO DE DEUS E É AMODO POR ELE. Para aqueles que quiserem ler sobre o papel da memória na vida do filho de Deus, eu recomendo O Silêncio de Adão, de Larry Crabb.
No terceiro capítulo se fala do instinto de competição que é tão presente em nossas vidas. Nosso meio é dividido entre Vencedores e Perdedores, seja na escola, no trabalho ou entre os amigos. Podemos até não ter muito a ganhar, mas o simples fato de superar o outro nos impulsiona à frente. Temos que ter sabedoria para que isso não tome mais espaço em nossas vidas do que o devido. Enquanto o mundo faz uma segregação entre Vencedores e Perdedores, uma família acolhe as diferenças e une a todos; esse é o padrão de Deus e Jesus sempre preferiu os perdedores.
No capítulo quatro a dor da derrota é encarada como algo que nos chama a atenção para algo que está errado. Assim como temos todo um aparelho sensitivo que nos alerta acerca de alguma ferida, temos também a consciência que nos diz aquilo que está acontecendo de errado. Funcionando como um aparelho sensitivo espiritual, ela nos leva a prestar atenção em nossa ferida e cura-la. A culpa que sentimos por nossos pecados tem um remédio: o perdão e o cuidado de Deus.
O capítulo cinco é um alerta ao papel positivo da solidão. Yancey chega a dizer que ela é a única coisa dentro dele que o força a doar-se a outras pessoas, não permitindo que ele viva de maneira independente sem se apoiar em outras pessoas. É como um ímã. Deus nos criou incompletos para nos voltarmos a outras pessoas necessidades semelhantes, em outras palavras, doar-nos aos relacionamentos.
Em contrapartida, no capítulo seis Yancey fala que amar outras pessoas de maneira desprendida como Jesus fez não significa descartar nossos necessidades e nossos desejos como se eles não existissem. Isso é impossível, diz ele...mas significa colocar duas coisas acima de todas as demais em minha vida: as outras pessoas e Deus.
Aqui eu faço mais um adendo, descartar nossas necessidades é algo incomensurável difícil no contexto que vivemos. Nos dias de Jesus e Paulo a sociedade era concebida de maneira inteira e como um todo que era superior às partes; o indivíduo não tinha razão de ser fora da sociedade. Nos dias de hoje isso mudou. Nossa sociedade é essencialmente individualista e o indivíduo é visto como alguém com independência frente aos outros que estão à sua volta. Para ler mais sobre esse ponto eu recomendo o livro A família no antigo testamento.
O capítulo sete fala da raiva e como responder a ela. Yancey coloca três tipos de reação: 1) reação, 2) ignorar, 3) responder de modo criativo. A raiva é inegável e não podemos parar de senti-la para sempre (Ef 4.31 e 32). É a raiva injustificável que devemos aplacar, já a raiva justificável pode ser respondida de forma criativa. Não negue que está com raiva, só não peque (Ef 4.26). Minha raiva pode ser boa quando governada por minha vontade em direção ao melhor (Tg 1.19) – Deus nos colocou no controle.
O capítulo onze fala do legalismo. Até quando vamos querer impressionar Deus com nossos esforços vãos. O legalismo gera o orgulho daqueles que se auto-denominam moralmente superiores. O legalismo também leva à hipocrisia: é o caso de coar o mosquito e engolir o camelo. O legalismo também vicia porque leva a um jogo de poder daqueles que se consideram mais santos do que os outros. O legalismo gera ainda a miopia diante de Deus: o cumprimento das regras para conseguir a aprovação de Deus encobre um desejo de se ter independência de Deus. O raciocínio é: estou aprovado, estou liberado. Em tudo isso o que importa é o princípio por trás da regra, o amor, e não a regra em si. Foi o que Jesus pregou praticou. Podemos entender a graça em oposição ao legalismo se entendermos a graça como a obra inconclusa de Deus em nós.
Com simplicidade, Philipi Yancey e seus colaboradores tratam do assunto com muita competência nesse livro. É um livro pequeno, porém de muito conteúdo.

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